Dizer que Final Fantasy sobreviveu aos seus mais de 20 anos unicamente de ideias originais é uma inverdade. Ao mesmo tempo, considerar qualquer ponto de Final Fantasy como uma derivação de algo anterior seria um erro crasso. Uma média justa: a Square Enix sempre soube acompanhar os tempos, reinventando e se inspirando, a fim de evitar estagnações.
Em Lightning Returns: Final Fantasy XIII não poderia ser diferente. Caso você se desligue temporariamente do clima pesaroso que acompanha o fim iminente aqui, o que há é um conjunto de boas sacadas, boa parte delas relacionadas a um sistema de batalhas incrivelmente intuitivo, rápido e enxuto.
A questão é que, se por um lado o fim do mundo fez “bem” às coisas em FF XIII — conferindo um nível de seriedade dramática que não podia ser encontrado nos dois games anteriores —, por outro lado, o “bafo” sempre presente do fim acaba por extirpar a humanidade mesmo da sua protagonista aqui, a sisuda Lightning.
Ao se tornar as “mãos divinas” entre a humanidade, Lightning acaba flutuando acima das cabeças dos mortais e, com isso, comprometendo o tipo de leveza que sempre serviu de respiro às tramas de FF. Com isso, velhos relacionamentos foram minados e alguns novos simplesmente não chegam a vingar como se poderia esperar.
Não parece arriscado dizer que o sistema de batalhas de Lightning Returns é, de longe, mais rápido e elegante da série Nova Crystallis. Basicamente, em vez de tentar novamente flertar com batalhas em tempo real e em turnos, a Square Enix resolveu abraçar de vez os combates contínuos — algo bastante condizente com a atmosfera de urgência que trespassa toda a história.
Schemata
“Mas, como assim, não há mais uma equipe de personagens?” Pois é, agora há apenas Lightning — e uma eventual montaria Chocobo — sob seu comando. E isso é ótimo. Ok, à parte aquele subterfúgio do “ela deve realizar sua missão divina por conta” (?!), fato é que as possibilidades trazidas pelo conjunto de trajes e habilidades personalizadas — ao qual se dá o nome de Schemata — substituem com lucros toda uma equipe de heróis auxiliares.
Isso porque, basicamente, o belo sistema desenvolvido pela Square Enix transforma Lightning em vários personagens. Isso porque cada um dos padrões aqui contém ataques, indumentária, magia e barras de MP individuais — o que se reverte em inúmeras possibilidades estratégicas durante as batalhas. Além do que, trocar as roupas da protagonista de tempos em tempos deve atender o tipo de jogador mais... Fetichista.
Locações
Dias e noites
Grande parte do senso de urgência de Lightning Returns vem da inescapável passagem do tempo. E para “materializar” a coisa ainda mais, há aqui alternâncias de dias e noites. Além das alterações estéticas óbvias — decorrentes da diferença de iluminação —, pode-se dizer que a vida pulsa de forma muito diferente de dia e de noite.
Reprovado
Em Lightning Returns você precisa realizar missões secundárias para, em um esforço desesperado, salvar o máximo possível de almas que puder antes que a divindade mor do universo resolva encaixotar as coisas para a mudança (para um novo mundo).
O problema é que essas missões, em grande parte das vezes, são incrivelmente entediantes — coisas como fazer com que dois personagens separados por alguns metros se reencontrem ou sair coletando informações em quilômetros de diálogos aleatórios. Mesmo que parte da atmosfera leve de Final Fantasy seja devolvida nessas ocasiões, o que há, ao final, é apenas uma boa porção de “ossos do ofício”.
A agente da divindade
Lightning sempre foi uma personagem calada e introspectiva — sisuda mesmo. Mas não se pode dizer que lhe faltava humanidade, isso jamais. Bem, ocorre que a incumbência divina acabou por retirar grande parte do que havia de humano na protagonista — cujas emoções foram, de fato, retiradas pela deusa, a fim de “evitar distrações”.
E essa mudança de atitude é perceptível tanto nas novas quanto nas velhas relações de Lightning (basta acompanhar a sequência inicial com Snow). É verdade que a coisa de “fim do mundo” deixa tudo um tanto mais drástico. Só que isso não justifica a transformação da heroína em uma beata cegada pelo próprio senso de propósito.
Vale a pena?
A trilogia Nova Crystallis foi controversa desde o seu início. Embora jamais tenha falhado ao reacender o interesse em velhos fãs — arregimentando outros novos —, fato é que cada um dos jogos teve sua dose de inovações/alterações discutíveis — seja uma história excessivamente linear ou um vai e vem temporal capaz de tontear. Bem, o mesmo ocorre com Lightning Returns.Embora traga um dos melhores sistemas de batalha de toda a série — sob a forma genial do Schemata —, o fechamento conferido pelo título acaba ameaçado pelo seu próprio senso de urgência diante de um mundo prestes a ruir. Com isso, ganha-se em propósito e movimento, mas perde-se em empatia e mesmo em tempo de exploração — o que é tornado ainda mais patente pela penúria de grande parte das missões secundárias.
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